sexta-feira, 15 de abril de 2011

O CÔA VALE POR SI MESMO

por Jose Ribeiro

O Património do Côa justifica-se a si mesmo, mas as histórias que acompanham a sua evolução capricham em revelarem-se autênticas novelas assombradas. Parece haver um verdadeiro anátema que teima em afrontar a sua história e os seus defensores. Tal como um importante tesouro, que o é, envolvido em lutas obscuras e despiques politiqueiros, mais parece uma maldição tutancamónica que, nos enredos cinematográficos, acompanha os tesouros da Antiguidade.

Depois de batalhas e escaramuças que teimam em perdurar desde a sua descoberta, o Côa parece continuar ameaçado por uma mão invisível que sempre aparece, quando algo de inovador raia no seu horizonte.

O agouro caiu agora sobre a Fundação Côa-Parque. Embora publicitada, in extremis, no próprio dia da inauguração do Museu e contrariando a estratégia que fora avançada, a ideia de Fundação ganhou forma e conteúdo, mas mesmo esta sofreu metamorfoses esquisitas ao longo de três estatutos que se foram alterando, à medida das vicissitudes políticas, desde a fase de crisálida-apócrifa com sete patas recheadas de partidarismo doentio, até surgir como bicho adulto de apenas três, porém mais aptas para a sua locomoção.

Mas, uma vez mais, a maldição que carrega estenderia a sua asa negra sobre o bicho recém-nascido. Agora, à assombração tutancamónica juntar-se-iam as pragas dos mochos agourentos que bufam à calada da noite e que comem tudo, nos céus cinzentos, sob o astro mudo, como dizia o inesquecível poeta-cantor.

Não lhe bastava a maldição sideral, eram agora os bichos menores que medram na razão inversa das suas importâncias, que se aliavam àquela para ajudar à festa vampiresca que, inacreditavelmente, sobrevive nestes tempos de ilusão!

Mas depois dos tempos, outros tempos hão-de vir e o Côa permanecerá fiel a si próprio. Continuará a correr para um mar imenso, saltará muros e barragens. Nada o estancará, porque vale por si mesmo e as aves agourentas ou a maldição dos tempos apenas lhe darão aquela auréola de esplendor, que os maiores tesouros do mundo carregam como fatalidade!

1 comentário:

  1. Belo texto!
    Também penso que o futuro do Côa será risonho, também penso que o futuro desta bela região está no Turismo, sustentado, equilibrado, bem promovido dentro e fora do país.

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